A Inteligência Artificial já faz parte do cotidiano corporativo brasileiro, impactando desde o atendimento ao consumidor até decisões estratégicas. Porém, a maioria das empresas ainda opera sem regras claras para o uso da tecnologia. Apenas 27% das organizações possuem políticas formais de governança de IA, um índice que revela como o país avança em adoção, mas não em responsabilidade tecnológica. O dado integra a terceira edição da Pesquisa Setorial sobre Maturidade de Riscos Digitais das Empresas Brasileiras, realizada entre março e outubro de 2025 com 234 companhias de diferentes setores e portes. O levantamento, realizado pelo Miti – Markets Innovation & Technology Institute, analisou os três pilares da sustentabilidade digital: cibersegurança, governança de dados e inteligência artificial.
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A ausência de diretrizes para IA se reflete em um cenário mais amplo: mais de um terço das empresas brasileiras ainda não possui políticas robustas de cibersegurança. Quando ataques ou falhas digitais se materializam, o prejuízo médio projetado é de US$ 31,99 milhões por incidente, aproximadamente R$ 170 milhões, incluindo paralização de operações e reparo de sistemas. O valor, apesar de avançar inferior ao registrado em 2024, continua altamente expressivo.
“Há uma falsa sensação de que a tecnologia, por si só, resolve os problemas. Mas sem governança, a IA se transforma em um agente de risco. Ela pode tomar decisões erradas, discriminar pessoas ou vazar dados sensíveis, e tudo isso tem impacto direto na caixa e na confiança da empresa”, Flávia Brito, CEO da Bidweb, uma das patrocinadas da pesquisa.
O estudo também mostra que a governança de dados avança em melhor ritmo: quase 70% das empresas já tratam o tema como prioridade, impulsionadas por exigências regulatórias como a LGPD e cobrança por crescentes de investidores por transparência e conformidade. No entanto, esse avanço ainda não acompanha a complexidade da Inteligência Artificial.
A rápida expansão da IA generativa, agora incluiu os processos críticos como análise de riscos, concessão de crédito e triagem de currículos, amplia os riscos operacionais e éticos. A falta de supervisão cria brechas para vieses discriminatórias, decisões automatizadas sem auditorias e dependência tecnológica sem claras sobre responsabilidades.
“O Brasil está adotando IA em escala, mas sem modernidade proporcional no controle do que os algoritmos fazem, por que fazem e quem responde quando erra. Isso abre espaço tanto para danos silenciosos quanto para eventos catastróficos”, destaca Flávia Brito.
O contexto global adiciona pressão. Países que lideram a regulamentação da tecnologia, como membros da União Europeia, com o recém-aprovado AI Act, elevam expectativas de segurança e transparência para empresas que atuam no mercado internacional. “Governança não atrasa inovação. Pelo contrário: é o que garante que as empresas possam inovar sem perder consumidores, sem enfrentar ações judiciais e sem transformar o digital em passivo. Quem cuidar da ética e da segurança da IA agora terá vantagem competitiva amanhã”, pondera o especialista.
A pesquisa traz um panorama de que o Brasil alcançou alto grau de digitalização, mas ainda exibe baixa maturidade de risco, um descompasso que tende a crescer com a tração tecnológica. O desafio das empresas brasileiras, segundo conclui Flávia Brito, não é mais decidir se vão adotar inteligência artificial, mas como fazê-lo com supervisão, responsabilidade e sustentabilidade corporativa.
